10 - Umberto Eco; Baudolino; Bestbolso-Record; 2007(1963); 602 páginas – Período de leitura: 06/06/13 - 06/07/13
Comentário:
Sou sempre reticente em falar que estou lendo um romance... algumas pessoas um tanto desligadas as vezes me perguntam: “Como assim romance? Um homem e uma mulher?” (???...)
Romance é um estilo literário, é ficção, nada mais do que gênero narrativo e composição em prosa. O que se conhece por livro, (excetuando-se os didáticos), é romance, a mesma falácia se dá quando falo em novela... Enfim, faltam-me palavras para descrever a complexidade, plenitude e a vastidão que representa este “romance” de Umberto Eco – talvez o espanto tenha a ver com o grande conhecimento cultural e intelectual de Umberto Eco, afinal ele é apenas escritor, filósofo, semiólogo, linguista e bibliófilo italiano de fama internacional. É titular da cadeira de Semiótica (mas que diabos é isso?) e diretor da Escola Superior de Ciências Humanas na Universidade de Bolonha.
Este é um romance filosófico, histórico, medieval, cômico, de aventura e fantasia. ??? É isso mesmo, tem tudo isso neste livro, ...e muito mais! É claro, sem se tornar piegas, muito pelo contrário, a escrita é bem acessível e popular, porém, de uma erudição e criatividade sem limites. Nota-se esta profunda erudição pelo conhecimento histórico e filosófico exposto durante todo o desenrolar da história: Através da descrição detalhada da época das cruzadas e das intrigas palacianas; dos cismas da igreja romana bem como das correntes de pensamento da igreja primitiva. Conhecimentos estes, amplamente amparados pelo conhecimento de livros raros e antigos sobre o movimento gnóstico através de palavras como éons, pleroma, Sofia – que por sinal foram todas suprimidas da bíblia.
Movimento Gnóstico – corrente de pensamento religioso e filosófico, multifacetado e difuso que era caracterizado por clamarem, por buscarem supremamente algum tipo de conhecimento secreto, (Gnose), sobre as naturezas do universo e da existência humana.
Nota-se aqui e acolá muitas referencias a cultura hermética – Hermes Trismegisto, também um movimento cristão filosófico e muitas referências a culturas grego-romana.
Hermes Trismegisto - "Hermes, o três vezes grande" é o nome dado pelos neoplatônicos, místicos e alquimistas ao deus egípcio Thoth, identificado com o deus grego Hermes e o romano Mercúrio. Ambos eram os deuses da escrita e da magia nas respectivas culturas.
Mas isso não era um romance? Sim,... Baudolino, nosso protagonista tem como principal virtude ser um mentiroso, lembra-me Dom Quixote de Cervantes pelo seu humor eloquente e seu caráter virtuoso. Sua historia começa entre intrigas palacianas e guerras provincianas passando para uma aventura épica pulando para narrativa fantástica no mais puro estilo quixotesco – temos até um romance, este sim, entre um homem e uma mulher, (bem... não é bem uma mulher, mas... serve...). Desta forma tudo caminha para um final onde tudo se redime de forma maravilhosa.
Semiótica - é a ciência geral dos signos e da semiose que estuda todos os fenômenos culturais como se fossem sistemas sígnicos, isto é, sistemas de significação ou seja quando o que importa não é a palavra e sim seu significado.
Sinopse da editora:
"Entre monstros que habitam o inconsciente da Idade Média, este livro de Umberto Eco combina diferentes modos de narrativa: o romance de aventuras, o conto fantástico, a história de mistério. Uma homenagem do autor ao santo protetor de sua cidade natal, Alexandria, protagonizada por Baudolino, adolescente, mentiroso e criativo que conquista o imperador Frederico Barba Ruiva e Nicetas Coniates, personagem inspirado em um historiador e orador que viveu em Constantinopla. Eco embaralha os seus personagens inventados e produz o mais recorrente efeito de seu texto: interferir em acontecimentos históricos conhecidos por meio de atos ou circunstâncias vividas pelos personagens fictícios. O resultado é imperdível: temperado por inúmeras situações cômicas, eis aqui uma narrativa divertida e acessível, tanto para quem busca a erudição de Umberto Eco como para quem apenas quer ler uma boa aventura. Uma celebração à força do mito e da utopia.
“Eco deixa seu virtuosismo correr livre, apoiado numa imaginação aparentemente ilimitada.” - O Estado de S.Paulo
“Baudolino é uma ótima aventura na Idade Média.” - Isto É